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GÓTICO X DEATHROCK: história, semelhanças e diferenças




GÓTICO X DEATHROCK: Nós precisamos fazer essa “DR*” :-) (*Discutir a Relação)


A tradição musical da subcultura Gótica inclui vertentes Deathrock mas, devido às suas raízes diversificadas e multi-geográficas nos anos 70 e 80, também gerou e inclui uma grande diversidade de vertentes e se apropriou de outras próximas que desde os anos 80 e 90 convivem sob o guarda-chuva do termo GÓTICO E DARKWAVE.


INTRODUÇÃO:


“Os primeiros clubes góticos foram na Inglaterra”, lembra o DJ e lenda da vida noturna Joseph Brooks sobre sua primeira incursão em imagens e sons diabólicos. “Henry [Peck, ex-parceiro de Brooks, que morreu no início deste ano] e eu fomos a alguns e dissemos: ‘ Isso é o que queremos fazer ’, então voltamos para L.A. e começamos a fazê-lo.” Brooks diz que nunca se esquecerá de ir ao Club for Heroes, o clube noturno seminal de Steve Strange do Visage em Londres, em 1981. Em sua turma animada na época: Siouxsie Sioux, Steven Severin e Budgie de Siouxsie & the Banshees e Robert Smith do The Cure. “Sentamos em uma mesa ao lado de Michael Jackson!” Brooks lembra, prenunciando o apelo universal da cultura obscura, embora ainda fosse muito underground na época. “Tivemos que carregar Robert Smith porque ele estava tão bêbado que não conseguia andar.” (1) (2) Depois Brooks abriu o primeiro clube na Califórnia e o resto é história.


Quando conheci a cena Gótica em 1990 o deathrock ainda era apenas uma das diversas vertentes que nós góticos curtíamos junto a várias outras mas, principalmente após a morte do ícone Rozz Williams em 1998, se inicia um revival deathrock global, reforçado pela ascensão da internet popular lá fora. Aqui no Brasil já tínhamos internet desde 1996, mas ela ainda era cara e atingia poucas pessoas, pois só era possível para quem tinha computadores e telefone fixo. A internet no Brasil só se torna realmente popular no final da década de 00 e ascensão dos smartphones.


Assim, até 2005 temos uma geração maravilhosa de bandas com estilos deathrock (no mundo e no Brasil) que as vezes se cruzava com outro estilo que floresceu nessa época, o Dark Cabaret. A população deathrock cresce nessa época, surgindo projetos de desenvolvimento de uma cena ou subcena especialista limitada aos estilos ligados ao deathrock (fora do sistema mais amplo da cena Gótica, devida às origens diversas, como veremos adiante ). Crescem festivais especialistas nos EUA e Europa, paralelamente aos já consolidados festivais Góticos/Darkwave que são e continuam incluindo uma variedade de estilos maior.


Em parte isso acontece porque quando uma subcultura se desenvolve ao longo de décadas é difícil que toda essa variedade continue a caber no seu formato original. Aconteceu o mesmo em várias vertentes góticas e darkwave que tinham poucas bandas nos anos 80 e hoje floresceram em subcenas musicais inteiras.


Mas esse florescimento aconteceum do caso do Deathrock e Gótco, também devido a diferenças estruturais na origem e raízes da vertente Deathrock dentro do universo Gótico, origens que foram diferentes nos EUA e Europa.


Mas antes de falar de Deathrock e Gótico, precisamos esclarecer alguns pontos sobre Punk, Post-Punk e New Wave, sem o que não é possível entender como isso aconteceu:


OS VÁRIOS PUNKs, POST-PUNKs E NEW WAVEs... e o GLAM!

Geralmente se fala do punk como uma coisa só, mas há vários "movimentos punks" com características muito diferentes. Entre o punk original nos EUA no começo dos anos 70 e a terceira ou quarta versão inglesa anos depois temos movimentos que não se reconhecem. E no meio disso há 1976... mas vamos começar do princípio.

Leia aqui artigo sobre o GLAM rock. O Glam Rock (aproximadamente 1970-1976) foi um movimento que é essencial para entender as dinâmicas das tendências que surgiram paralelamente ou depois, tendo influenciado tanto o Gótico, o Punk, os New Romantics, a New Wave, estilos Indie e outros movimentos posteriores.


Há pelo menos 3 coisas diferentes chamadas de punk em momentos diferentes, e pelo menos duas definições de New Wave, dependendo da época. O que era chamado de New Wave em 1976 ou 1978 não é o mesmo que era chamado de New Wave em 1982 (3) (4). Esse assunto merecerá um texto longo e detalhado, aqui vamos apenas citar o que interessa para o assunto gótico x deathrock.


O Punk nasce nos EUA, entre 1970 e 1974, dos escombros dos movimentos Hippie e Beatnick e das Garage Bands norte americanas (como MC5), mas ainda carregava muitos de seus elementos. As letras ainda eram ricas, e a música diversificada, contendo solos, como Patti Smith, Television e até em casos como os Dead Boys. Não por acaso, em 1976 Pére Ubu já fazia um som post-punk... antes do punk .


Mais tarde, o nome punk é tomado para batizar a banda Sex Pistols em 1976, (copiando os norte-americanos do Richard Hell e algo do New York Dolls), fazendo algo diferente e bem mais limitado, com letras e músicas simples, tanto que há uma rejeição dos punks originais dos EUA aos Pistols. Mas o nome punk acaba ficando com a geração Pistols e depois com uma terceira geração, a partir de 1978, que estabeleceu o visual e som padronizado que conhecemos até hoje, com 3 acordes, discurso político, moicanos e jaquetas com rebite. Mas o punk inglês de 1976 ainda era diferente do que ficaria padronizado nos anos seguintes até hoje.


O visual com moicano também só surgiria mais tarde.


Até 1976, New Wave ainda era um termo que englobava as bandas punks (especialmente dos EUA). Como o dono da loja SEX, Malcolm McLarem, popularizou o termo punk para um estilo diferente e mais fechado, o termo New Wave deixou de englobar o punk ainda no final dos anos 1970, sendo usado para o que era antes a parte mais “suave” do punk norte-americano como Talking Heads e Devo (influenciados por Eno), Blondie, Patti Smith, Television e a No-Wave de NYC e novidades de influência synth. Com a chegada dos anos 80, o synth passou a ser incluído na New Wave.


Mas isso gera uma confusão, pois a origem do synth e darkwave não tem relação direta com o punk e o que era chamado de new wave antes. Assim, acontece um erro de anacronismo: a new wave ligada ao punk (de 1976) não é a mesma de 1982. É o mesmo que acontece hoje quando chamamos industrial rock ou metal de “industrial”, sendo que este rótulo se refere a outro estilo mais antigo dos anos 1970 (Throbbing Gristle, Cabaret Voltaire (5), etc), não relacionados.


Então é preciso ter claro que cada definição tem significados diferentes em épocas e lugares diferentes.


Nos EUA, depois da visita dos Sex Pistols, a maior parte os punks originais passam a procurar novos rótulos, ficando o rótulo punk apenas para as sonoridades similares a nova vertente "pistoliana" e derivados com discurso e ideologia semelhantes. ( )


Apesar de ser chamado de “pós-punk”, as influências musicais das bandas do período são todas anteriores ou diferentes do punk, como fica evidenciado não só na sonoridade, mas também nas entrevistas e biografias das próprias bandas, algumas que você pode ler aqui, aqui e aqui. Isso é mais evidente ainda nas principais bandas góticas do cânone como Siouxsie and The Banshees, Bauhaus, The Cure, Joy Division além de Dead Can Dance e Cocteau Twins, e depois The Sisters of Mercy e outras fora do Reino Unido como Clan of Xymox, Opera Multi Steel e Poesie Noire.


DEATHROCK X GÓTICO: INTERSECÇÕES E DIFERENÇAS

É fácil entender a diferença entre Deathrock e o Gótico/Darkwave se prestarmos atenção à cronologia, geografia e lembrar que os rótulos são aplicados muitas vezes retroativamente, o que causa muita confusão. Mas resgatando a história antes dessa confusão fica mais fácil.

As diferenças começam com o fato que a história da música alterativa nos Estados Unidos e na Europa são diferentes, e até os anos 80 os contatos demoravam um pouco para acontecer. Fizemos aqui uma representação gráfica dessa cronologia, que pode ajudar na compreensão desse texto.

Vamos ver alguns detalhes: PERÍODO 1970 a 1982:


DEATHROCK (nos Estados Unidos até 1982)

O que foi chamado depois Deathrock é um fenômeno que começa na costa Oeste dos estados Unidos, especialmente Califórnia, na virada dos anos 70 para aos anos 80. Suas influências são mais puras de subestilos do rock, especialmente norte-americano: principalmente o glam-metal (como Alice Cooper, mas muitos artistas citam também o Kiss), o garage rock e o punk original do final dos anos 60 e começo dos 70 (como Stooges e MC5) rock cru e básico dos anos 50 e a surf-music. Mas diferentemente da Europa, na cena da California o punk (americano, mais próximo do rock tradicional) e glam-metal estavam mais próximos. A isso se misturou uma temática “camp” de horror de filmes B. Entre 1979 e 1982, as principais bandas vão ser Christian Death, 45 Grave e Kommunity FK, em que se destacaram também as artistas Gitane Demone e Dinah Cancer.


Nos EUA, em que havia um sistema de apartheid étnico oficial até 1968, a música Black e Funk desenvolveu um alternativo próprio , que deu origem a cena Hip Hop nos anos 80, em geral separado do rock branco (salvo o crossover de Funkadelic e outros grupos da cena black no começo dos anos 70). E apesar da proximidade geográfica do Caribe, a distância cultural para os ritmos latinos e reggae era maior do que em relação ao Reino Unido (que incentivou imigração depois da segunda guerra mundial).


Curiosamente, nos EUA, a vanguarda eletrônica europeia vai chegar antes na cena e DJs black music, com a sonoridades como a do Kraftwerk sendo influentes na sonoridade do nascente hip-hop, ainda longe do rock e do alternativo predominantemente "brancos" dos EUA.

Na Europa, a formação dos estilos nos anos 70 foi diferente, como veremos a seguir.

GÓTICO/DARKWAVE (Europa até 1982)

O que foi chamado de Gótico e Coldwave desde o final dos anos 70, e depois de Darkwave(s), tem uma história de influências mais variada e "multinacional" que a do Deathrock norte americano.


Isso aconteceu tanto por termos na Europa várias cenas se desenvolvendo não só em cidades diferentes do Reino Unido, mas também em países diferentes, ao mesmo tempo que a relação com tradições musicais de imigrantes é mais integrada. Apesar do racismo, as periferias do Reino Unido não eram tão separadas etnicamente e culturalmente como as do EUA (apesar de haver racismo também no UK, a dinâmica era outra) e havia integração de estilos dos imigrantes desde o final dos anos 60, como Música étnica e folk, Reggae, Ska, Soul, Funk, Jazz. etc. Também a nova música alternativa da Alemanha chegava com força no Reino Unido entre 1970 e 1976, influenciando a geração que criaria o som dos anos 80, sendo destaque em programas como o do famoso John Peel. Diferente dos EUA, no Reino Unido o metal da NWBHM chegara ao sucesso e estava distante dessa equação alternativa. Assim, na Europa, foi o Glam-Rock britânico (Roxy Music, David Bowie, Brian Eno e o T-Rex de Brian Bolan) - com base rock, folk e soul– que foi influente junto com a influência do Krautrock e outras experiências eletrônicas que vão ser fundamentais na formação do que seria depois chamado de Synth, Colwave e Darkwave. Entre 1972 e 1977 principalmente Brian Eno e Bowie consolidam esse crossover de estilos, mas já temos uma cena Industrial nascente em 1975. O rótulo Coldwave é usado em 1977 pela primeira vez pela revista Sounds (junto com o rótulo “New Musik” para as novas tendências, quando post-punk não era de uso sacramentado ainda), em uma matéria de capa como Kraftwerk, que citava ainda Throbbing Gristle e Siouxsie and The Banshees como “novidades frias” do futuro (em oposição ao punk dos Pistols e suas cópias, já dado como esgotado no final de 1977).


O Kraftwerk já marcara a história com single Autobahn de 1974, mas o show deles na Inglaterra em 1975 mudou a cabeça de muita gente que a seguir seguiria uma nova direção musical. Com o lançamento de LOW de Bowie em 1977 a mistura estava sacramentada. Como a primeira geração de bandas – Siouxsie, Bauhaus, Joy Division, The Cure - deixam claro em suas entrevistas e biografias, suas influências musicais são anteriores e paralelas ao punk (ou pelo menos do que passou a ser chamado de punk a partir dos Pistols e depois do hardcore). Outras bandas post-punk inglesas não-góticas fazem a mesma declaração. Essa origem e desenvolvimento separada do punk e do hardcore é um diferencial da formação da formação do Gótico e Darkwave europeus em relação aos EUA, onde essa relação é mais próxima no caso do Deathrock.

Simultaneamente, na França, Países Baixos e Alemanha tínhamos vários outros desenvolvimentos em cenas com características próprias. Por exemplo, artistas como Joachim Witt passaram direto do Krautrock para a Neue Deutsche Welle em um intervalo de menos de 10 anos.

Apesar de algumas bandas Deathrock adotarem percussões tribais inspiradas nas primeiras bandas góticas como Siouxsie e Bauhaus, e depois Virgin Prunes, outro elemento ausente no Deathrock é forte na cena Gótica/Darkwave Europeia: os elementos folk e ethno, de várias origens, podendo vir da música antiga europeia (céltica, irlandesa ou medieval) ou de matriz africana e oriental. Dada a influência do Krautrock, elementos progressivos e synth são mais presentes no Gótico e Darkwave, e a influências de artistas como Nico e Nick Drake aparecem de várias formas. Na soma disso temos a explicação para vários aspectos de bandas ethereal, folk e neo-clássicas que surgem em meio a darkwave, junto à corrente eletrônica minimal (e também maximal...) derivada do krautrock, industrial e synth dos anos 1970. Outra influência que já comentamos é a da black music, soul e ritmos etnicos, geralmente ausente no deathrock.


PÓS 1982: BATCAVE e NOVAS VERTENTES GÓTICAS E DARKWAVE


“...tinha algo de diferente na Batcave. Um novo ambiente. Durante nossa primeira visita nesse lugar, foi a primeira vez que vimos uma pista de dança se esvaziar quando o DJ Hammish rolou Sex Pistols!”

(Sra. Fiend, entrevista junto com Nick Fiend, Alien Sex Fiend). em “ The Batcave : 1982-1985: du post punk au goth”


Em meados de 1982, ainda como uma noite de revival glam, abre o clube Batcave, (8) mas em 1983 ela se especializa e a mídia Londrina “descobre” (na verdade, aceita tardiamente) o Gótico, tentando se apossar da “descoberta” do movimento, e essa versão se popularizou: como se dizia preconceituosamente “o que acontece fora de Londres não existe”. Mas isso ignorou todas as outras cenas e vertentes do Reino Unido e do resto da Europa.

Na Batcave nesse período se destacaram a banda “da casa”, o Specimen, além do Alien Sex Fiend. São contemporâneos o Sex Gang Children, também de forte inspiração glam. Uma banda mais antiga, o Virgin Prunes, vai ser também incluída “na Batcave”, como outras bandas post-punk iniciais do final dos anos 70 e de raiz glam-rock.

Mas quanto ao Deathrock em si, como o entendemos hoje, em 1983 e 1984 acontece um fato importante que é o começo do intercâmbio entre a cena da Califórnia e a cena inglesa da Batcave, com as bandas tocando juntas e passando a se retroinfluenciar. Com esse intercâmbio entre as bandas dos EUA e do Reino Unido, temos a formação do que chamamos até hoje de Deathrock.

Ainda em 1983 uma revista tenta aplicar o rótulo “positive punk” para um grupo específico de bandas, mas o rótulo não pega, principalmente porque nessa altura a maioria das bandas góticas/darkwave conhecidas não parecia punk nem nas letras, músicas nem no visual há algum tempo, já tendo a identidade própria que conhecemos até hoje (ex: Siouxsie & The Banshees, The Cure, Bauhaus, etc), o termo Gótico já estava disseminado e o punk já tinha evoluído para algo totalmente diferente de 1976. Já não era possível colocar o gênio de volta na garrafa e nesse mesmo ano o termo gótico sai do underground chega à mídia mainstream.

Na Inglaterra termo “gothic” era muito mais comum no senso comum em inglês do que é em português, devido à história da literatura e cinema, mas no Brasil a mídia mainstream não vai aceitar o termo gótico, criando nos anos 80 um termo guarda-chuva: dark, que apagava a especificidade da cultura gótica pois incluía todo o post-punk, new wave e no-wave indistintamente. Mas já no final dos anos 80, no Brasil, os insiders e pessoas mais bem informadas diferenciavam gótico e dark, diferenças que comentamos aqui. Por isso não podemos usar gótico e dark como sinônimo, apesar da área de intersecção entre os estilos.

ESTILOS GÓTICOS


No praia gótica uma diferença importante se dá no Gothic Rock que inclui cedo elementos de rock dos anos 60, hard rock e rock progressivo, com exemplos notórios de Love and Rockets, Killing Joke, The Sisters of Mercy, The Mission e Fields Of Nephilin, ficando só nas bandas inglesas. Sobre a primeira geração, já comentamos acima a diversidade de influências.

Já o Deathrock tende a não incluir essas influências, apenas dos elementos glam-metal aparecem, como no caso do 45 Grave por exemplo. E, como acontece em toda vertente musical, temos ótimos crossovers e bandas que transitam entre os estilos.

Finalmente, podemos entender agora o fato de o rótulo Batcave ter sido aplicado retroativamente sobre bandas que se chamaram ou já eram chamadas de Góticas em algum momento, como Siouxsie, Bauhaus, Joy Divison ou Cure, entre outras.


Hoje as duas tendências compartilham o som dessas bandas, mas nada era chamado de Batcave entre 1976 e até meados de 1982. Só a caverna do Batman mesmo. Nesse período, diversas vertentes góticas e darkwave diferentes já estavam estabelecidas ou em formação, não só em Londres, mas em outras cidades do reino Unido e da Europa, com características mais amplas e variadas do que o contemporâneo Deathrock norte-americano.

A tradição musical da subcultura Gótica inclui vertentes Deathrock mas, devido às suas raízes diversificadas e multi-geográficas, também gerou e inclui uma grande diversidade de vertentes e se apropriou de outras próximas que desde os anos 80 e 90 convivem sob o guarda-chuva do termo GÓTICO E DARKWAVE. Comentamos um pouco sobre essa diversidade de raízes e estilos formados aqui.

CONCLUSÃO

Assim, podemos concluir que o Gótico é um conjunto maior que inclui ou tem intersecção com o Deathrock, mas o Deathrock não inclui todas as vertentes tradicionais da cena gótica, devido terem formações e origens diferentes nos anos 70 e 80.

Também, da mesma forma que o Deathrock tem intersecção com outras cenas sem relação com o Gótico, o Gótico tem intersecção com cenas que não tem nada a ver com o Deathrock.

Devido a evolução natural – e especialização - das vertentes e subestilos ao longo de 30 anos ou mais, nenhuma cabe mais “dentro da outra” como no passado, mas mantém uma saudável e criativa zona de intersecção e crossover.


Além disso, não só pela explicação das raízes que fizemos acima, mas também pela riqueza presente e importância de ambas as tendências, as discussões sobre ancestralidade ou quem veio antes se tornam irrelevantes: além de haver espaço para todas as diversidades, quando falamos em estudo de culturas e subculturas o momento real é sempre o presente. O estudo do passado serve apenas para explicar o estado atual, não para limitá-lo (por exemplo, como quando estudamos a história passada da cultura brasileira: ninguém ousaria dizer que o brasileiro atual é menos brasileiro por não se comportar como um brasileiro do século XIX...).


Assim, seria mais positivo celebrarmos as partes que temos em comum, e não ficar procurando apontar as partes em que temos diferenças, principalmente em países como o Brasil. Como acontece em outros lugares do mundo, as várias vertentes que no passado cabiam todas na cena Gótica, hoje tem ao mesmo tempo seus espaços especializados (sejam cybergoth, deathrock, electro-industrial, minimal, post-punk etc) mas também participam os espaços da subcultura gótica. O importante é reconhecer a riqueza e especificidade de cada um desses espaços: tentar limitar um ao outro é desnecessário e representaria uma perda para todos os lados.


Então vamos curtir todos os estilos que quisermos e respeitar as características de cada cena específica: as vezes juntos, as vezes separados. Como sempre, é preciso respeitar para ser respeitado. Seria irreal esperar da subcultura gótica/darkwave a mesma especialização das subcenas derivadas ou relacionadas (ex: cybergoth, deathrock, industrial, post-punk/indie, electro-industrial, medieval/ethno, etc).


Enquanto a subcultura gótica continua sendo um meio de diversidade estilística (e humana e social), essa diversidade precisa ser respeitada da mesma forma que respeitamos o recorte mais específico e delimitado de subcenas especialistas.

H.A.Kipper (2020/2021)


Conheça a música:


OUÇA PLAYLISTS DOS ESTILOS CITADOS (separadas por estilo ou época)

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REFERÊNCIAS e FONTES CITADAS nesse artigo:

(1) Zakkarrii Edison Daniels, left, Queenie Black and Tara Murphy rock different gothic glamour looks.; Credit: Levan TK - CITY OF (DARK) ANGELS: HOW L.A. HELPED BIRTH GOTH AND IS KEEPING THE CULTURE ALIVE -LINA LECARO AND LISA DERRICKJANUARY 1, 2019 This article was originally published October 24, 2018.

(2) GOTH: Undead Subculture - Lauren M. E. Goodlad (Editor), Michael Bibby (Editor)

(3) Mate-me Por Favor - Vol 1 e 2 - Gillian Mccain (Autor), Legs Mcneil (Autor)

(4) Are We Not New Wave? Modern Pop at the Turn of the 1980s - Theo Cateforis

(5) Industrial Evolution: Through the Eighties with Cabaret Voltaire - Mick Fish (6) Rip It Up and Start Again - Postpunk 1978–1984 - Simon Reynolds (7) The Batcave : 1982-1985: du Post Punk au Goth - Thierry F. Le Boucanier (8) Batcave : The Blitz Kids + Bibliografia já citada em outros de nossos artigos

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