Parcial de foto promocional, de Anton Corbijn
GÓTICO x DARK: Diferentes, mas com alguma coisa em comum.
No Brasil, devido a ditadura militar (1964-1985), muita coisa chegou atrasada, junta e misturada. Assim, não acompanhamos as fases de oposição conceitual dos movimentos originais. (...) E entre 1977 e 1983 aconteceu muita, muita coisa importante.
Na Europa todos os movimentos que comentamos antes surgiram em certa ordem e contexto, com características mais específicas e muitas vezes se opondo um ao outro. Entre um e outro há espaço de anos e muitas mudanças.
No Brasil, o post-punk também chega atrasado e dura muito. Até hoje vemos um oitentismo que teima em não passar. Também a mídia musical mainstream continua reduzindo gótico a anos 80 ou post-punk.
Mas a rejeição ao conceito de gótico no Brasil não começou hoje: nos anos 80, mesmo que o termo gótico já fosse usado há muito anos lá fora, jornalistas brasileiros difundiram um termo que não tem em outros lugares o significado que demos aqui: “dark”. Acabamos criando momentaneamente nos anos 80 uma subcultura que talvez só tenha existido aqui com características locais.
Isso explica o conflito de gerações e informações que acontece quando a gerações posteriores chegam com as informações mais completas de fora do Brasil sobre a evolução que o gótico continuou tendo lá.
Mas ambos os lados estão corretos: o dark brasileiro se aproxima do que foi uma mistura de post-punk/new wave/no wave lá fora, mas com toques característicos do Brasil que – coerentes ou não com o gótico europeu, não importa – criaram uma peculiaridade. Mas em termos comparativos, o dark brasileiro seria algo mais restrito estilisticamente do que o gótico, não incluindo todas as características musicais, estéticas e sociais que temos na subcultura Gótica. E, claro, incluindo outras que não encontramos na subcultura gótica: a maior parte do post-punk não dialoga com a subcultura gótica.
(A confusão entre cenas musicais e subculturas só complica a situação).
O Dark brasileiro não foi o que o Gótico era na Europa na mesma época (desde a segunda metade dos anos 80), por isso não podemos dizer que o gótico é simplesmente “um novo nome” que foi dado ao “dark” (outro mito confuso difundido no Brasil). Essa ideia restringiria o gótico a um fenômeno revival e eliminaria grande parte de suas características.
Porém, em toda sua diversidade, a subcultura gótica continua a cultivar também os estilos musicais – e visuais - dos anos 80, mas sem se restringir a eles. É importante valorizar essa peculiaridade brasileira, o “dark”, mas sabendo que é uma “palavra” e ideia sem tradução no contexto da subcultura gótica global hoje.
Mas isso não faz do “dark” um fenômeno menor: no século XX, muitas subculturas foram ou tiveram variações locais especializadas, devido à ausência ou precariedade das comunicações globais. Porém, ao mesmo temo, é preciso ter claro que não podemos reduzir nem gótico a dark, nem dark a gótico: ambos os casos são distorções que apagam características um do outro.
É importante conhecer essa história da cultura alternativa brasileira. Além disso temos uma importante intersecção musical entre o dark e o gótico, assim com temos entre o gótico e outras cenas musicais como a guitar/indie, EBM, synthwave, etc.
Apenas a partir da segunda metade dos anos 90 as subculturas começam a se transformar em fenômenos translocais ou glocais (globais) como as conhecemos hoje, em que todos temos informação atualizada sobre o que acontece hoje em nossas subculturas no mundo inteiro (veja os capítulos “A Translocalidade Da População Gótica” e “Glocal” no livro Happy House 2).
Este texto é parte do livro HAPPY HOUSE – Vol 2- Uma Introdução à Subcultura Gótica (2018) que você pode baixar completo e gratuitamente aqui.
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