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A SUBCULTURA GÓTICA É HIPERFEMININA

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A SUBCULTURA GÓTICA É HIPERFEMININA. O QUE SIGNIFICA ISSO?


A Doutora em estudos culturais Dunja Brill (2008) descreve a subcultura gótica como “hiperfeminina” e com uma utopia de “genderlessness” (ausência de gênero). Essa definição tem sido usada ou converge com as principais pesquisas feitas sobre a subcultura Gótica no século XXI (P. Hodkinson, Durafour, Goodland, Bibby, etc) em diversos países.


Por comparação, são “hipermasculinos” o heavy-metal (e outros estilos extremos de rock) que investem em “masculinidade fantástica” (Brown, A.R, 2003) “e sua cultura associada é visto como mais tradicionalmente masculino e desavergonhadamente macho em sua atitude e imagem” (Doing Gender in Heavy Metal, Perceptions on Women in a Hypermasculine Subculture- Anna S. Rogers, Mathieu Deflem, 2021). 


Podemos ver a hiperfeminilidade da subcultura gótica em suas características: em toda simbologia Ying da subcultura, nos visuais masculinos e femininos, nos estilos de dança, no compartilhamento de espaços sociais de status e poder, no design, em comportamentos permitidos para todos os gêneros etc. Vamos ver em detalhe:


1) VISUAL E COMPORTAMENTO:O meio-ambiente padrão característico da cena Gótica afrouxou consistentemente os elos entre as facetas estilísticas dos gêneros e as categorias sexuais fixas de homem e mulher. (...), o gótico, desde o seu começo, se caracterizou pela predominância, tanto nos homens quanto nas mulheres, de tipos de estilos específicos que seriam normalmente associados com feminilidade.” (Hodkinson, 2002).


O visual gótico masculino não busca parecer mulher ou indefinido, mas criar um tipo de masculino coerente com discurso simbólico da subcultura gótica, (P. Hodkinson,“Goth”, 2002).Já as mulheres Góticas, usam o visual como discurso de empoderamento. Segundo J. Gunn, “as mulheres góticas deliberadamente distorcem as imagens dominantes da mulher objeto sexual como uma estratégia de empoderamento” irônica. Por isso as personagens de Dominatrix, Lillith, Bruxa e outros arquétipos de “mulher poderosa” são tão usados como personagem feminino pela população gótica. Mas esses personagens femininos (como o visual masculino) são exagerados e irônicos, como explica uma entrevistada de Gunn: “... mulheres na cena Gótica são dolorosamente conscientes das normas de beleza da Cultura Ocidental. Quantas vezes você viu uma mulher pegar uma imagem comum nas fantasias sexuais masculinas (a estudante, a animadora de torcida, a empregada francesa etc.) e dar uma torcida obscura nisso, transformando em um tipo de poder sexual. Eu posso até imaginar duas de minhas amigas dizendo – Você quer jogar esse jogo de poder sexual? Legal, eu vou jogar tão bem que vou colocar você de joelhos. Como você quer, garoto bobinho?” (em Goth: Undead Subculture, pag.52).


Lauren Goodlad coloca que “a masculinidade gótica é em muitos aspectos um assunto ideal para uma teoria pós-moderna de performatividade de gênero”. (em Goth: Undead Subculture, pag. 92) Ou apenas moderna: uma chave importante para entender a subcultura gótica é o “Baudelarianismo” e os consequentes Dandismo e autoironia. Baudelaire propôs em seu tratado de estética “O Pintor da Vida Moderna” que “só há beleza no que é artificial”. Não por acaso, os Dândis encarnavam os aristocratas melhor que os Aristocratas reais.


São poucas as subculturas em que elementos de feminilidade são reforçados, ao ponto de ser criado um padrão feminino para os homens: geralmente cabe às mulheres, para serem aceitas, incorporar características psicológicas ou simbólicas que são culturalmente classificadas como masculinas na sociedade dominante, e poucas vezes vemos homens sendo incentivados a incorporarem o feminino.


2) DANÇA E PISTA: A simbologia dos estilos de dança específicos da subcultura gótica tem em comum serem ondulatórios ou serpenteantes, em geral sensuais, sem movimentos marciais, sem grande expressão de força física e sem violência. Por comparação, os estilos de movimento corporal na maioria do Metal ou no Punk são completamente diferentes, com headbanging ou bater cabeça, mosh-pits ou pogo.  Além disso, na subcultura gótica, a ocupação dos espaços de status na dança e pista não exclui as mulheres: pelo contrário, tende mesmo a privilegiá-las. Na subcultura gótica realmente se “dança” no sentido tradicional da palavra.  


“No seio do movimento gótico, o visual, a dança, as atitudes e as posturas formam uma linguagem estética codificada que concorda com uma nova percepção da corporeidade (conjunto dos traços concretos do corpo como ser social): perceber os corpos como “obra de arte” é reconsiderar seu valor em um mundo onde nossos corpos não nos pertencem mais verdadeiramente.” (Durafour, 2005)


3) SIMBOLOGIA GERAL: Podemos observar o caráter Ying de todo sistema estético e simbólico da subcultura Gótica.  Vamos ver os principais: o conjunto destes símbolos é repetido em grande quantidade e frequência em letras, músicas, roupas, imagens, comportamentos, discursos etc.   Lua, Prata Água/Mar, Noite, Outono e inverno, Sensualidade, Mistério, Decadência, Expressionismo, Feminilidade (no caso das mulheres) e Anima (parte feminina no homem), Onírico (do reino dos Sonhos), Surrealismo, Dionisíaco, Intuição, Androginia, Drama, Primado das Emoções, Lirismo, Serpente, Vampiro, Bruxa, Feiticeira, Magia, Ennui, Spleen, Horror Gótico, Obscuridade, Paixão, Anjos caídos, Hedonismo, Romantismo, Caráter Seasonal e cíclico da vida e Morte...


“Para esta ética de estética, eles (nt: Góticos) se distanciam de todo imaginário brutal que poderíamos encontrar entre certos grupos de metal extremo. No seio do meio Gótico, valoriza-se mais a feminilidade, a androginia e o espírito dandy.” (Durafour)

“Eu vejo o industrial e o gótico como dois lados da mesma moeda, o yin e o yang- o masculino e o feminino, escreve Alicia Porter em sua pesquisa Study of Gothic Subculture, (...) O gótico expressa o emocional, a beleza, o sobrenatural, o feminino, o poético, o teatral; ...” (Goth Chic, Gavin Baddeley, 2003)


Poderíamos continuar aqui dando mais exemplos de elementos simbólicos que constituem o discurso de hiperfeminilidade na subcultura gótica. O mais importante, porém, é entender que todos esses símbolos são fios elinhas que significam em conjunto, tecendo o tecido e o texto que é a visão de mundo singular e única da subcultura Gótica.


H. A. Kipper, 2025

PARA APROFUNDAR ESSE ASSNTO, LEIA TAMBÉM:




BIBLIOGRAFIA: Doing Gender in Heavy Metal, Perceptions on Women in a Hypermasculine Subculture- Anna S. Rogers, Mathieu Deflem (2021) Goth Culture: Gender, Sexuality and Style – Dunja Brill (2008) Pretty in Punk: Girls' Gender Resistance in a Boys' Subculture - Lauraine LeBlanc (1999) Sex Revolts: Gender, Rebellion and Rock'N'Roll – Joy Press e Simon Reynolds (1996) Le Milieu Gothique: Sa construction sociale à travers la dimension esthétique- Antoine Durafour (2005)

Goth: Identity, Style and Subculture - Paul Hodkinson (2002) Goth Chic - Gavin Baddeley (2003)




 
 
 

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Henrique Kipper/ Gothic Station:  instagram: /gothicstation/
                                                          e-mail: henrique_kipper@yahoo.com  

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