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ZOO ALTERNATIVO, OITENTI$MO, e o APAGAMENTO do GÓTICO no BRASIL


OS TURISTAS no “ZOO ALTERNATIVO” *****


“Zoo Alternativo”: esse é um “modelo de negócio” que tem sido usado no Brasil desde os anos 80. E nós – góticos e alternativos - somos os animais nas jaulas.


Porém não se trata de uma performance metafórica estilo Bauhaus, infelizmente...


Mesmo que boa parte dos góticos gostem também de anos 80, góticos e outros grupos alternativos representam uma parcela ínfima do público total do estilo 80’s. A maior parte dos fãs de 80’s não tem ligação com nenhuma subcultura alternativa.


Aí está a pegadinha comercial: as festas anos 80 ou 80’S revival recebem rótulos genéricos de “alternativo” ou “underground” como forma de fazer uma versão palatável e comercial com grife de “diferentão”, em busca de “turistas”.


O “turismo” de público não alternativo no “zoo gótico” ou “zoo underground” é um negócio lucrativo, com rótulos diluídos e sem caráter definido, que além de servir como apagamento social de subculturas como a gótica, também expõe a população alternativa, especialmente a gótica, aos valores e comportamentos de uma população não-alternativa. Esse modelo de negócio serve para atrair tanto público conservador do mainstream quanto de outras subculturas mais heteronormativas ou machistas que a gótica, ou preconceituosas em outros aspectos.


Assim, por exemplos, muitas vezes, vemos a objetificação das mulheres góticas e homofobia contra os visuais góticos masculinos: o visual gótico feminino é “aceito” e fetichizado, mas não o visual gótico masculino. Assim sugiram também as estratégias comerciais de “gótico de bom gosto” (= homem gótico com visual heteronormativo conservador + gótica com visual Femme fatale objetificado).


Além disso, o argumento conservador “é só música e(ou) visual” serve para completar esse quadro de apagamento subcultural: fragmentar os elementos culturais é a estrutura do mercado de consumo e descarte, o oposto dos estilos subculturais.


Assim, muitas vezes ambientes que usam a grife “alternativo” ou “underground” baseados em 80’s ou outra linha "aceitável" que acabam sendo uma miscelânea indefinida que serve para atrair muitos turistas não alternativos. Pra eles os góticos (e outros alternativos de verdade) acabam sendo o equivalente de “animais do zoo”, “objeto de piada”, ou coisa pior, como a objetificação das góticas ou homofobia contra góticos já deixou clara ao longo da história.


Assim, temos uma multidão de eventos “underground nights”, “alternative 80’s”, “dark XYZ”, “underground isso e aquilo”, e outras combinações aleatórias de nomes que intencionalmente não significam nada.


A crítica e mídia musical tradicional reforça esses preconceitos, reduzindo o Gótico a post-punk, anos 80 ou post-punk revival. Cria-se assim uma versão pasteurizada e de “bom gosto” do Gótico, que é aceitável para o público pop ou mainstream, mas que exclui a maioria dos góticos e da tradição histórica e musical da subcultura gótica desde a segunda metade dos anos 80, anos 90 e século XXI.


Enquanto isso, a maior parte da população gótica é excluída ou se sente desconfortável no que deveria ser sua própria cena, mas não é sua.


O mais irônico é que o elitismo cultural converge com o comercialismo 80's: a exclusão da maioria dos góticos permite que uma minoria "troo 80's" tem seu status e ego reforçados em meio a uma multidão de turistas, como já explicamos detalhadamente aqui, nos 10 mitos que prejudicam a cena gótica brasileira.


Assim, os interesses convergem: uma cena gótica fraca e desorganizada interessa tanto a quem explora o conceito de "alternativo para turista" quanto para o elitista que baseia seu status no conceito de "poucos e bons em oposição a decadência atual".


Deixando claro: o turista é totalmente diferente do simpatizante. O turista vê os góticos como objeto de piada ou objeto sexual. O simpatizante tem interesse pelo estilo e o admira, respeitando seus valores e integrantes.


CONCLUSÃO: UM "ALTERNATIVO" REALMENTE ALTERNATIVO É POSSÍVEL NO BRASIL?


No Brasil os anos 80 nunca saíram de moda e continuam comerciais até hoje. Por isso é muito mais fácil e lucrativo fazer uma festa “anos 80, ou flash ou alternativo anos 80” ou “80’s revival” do que uma festa gótica e darkwave atualizada e coerente.


O oitentismo tem sido usado para apagar o estilo gótico no Brasil desde os anos 80 até hoje, em cada época com um nome e desculpas diferentes.


As vezes por conveniência comercial, outras por conservadorismo social, muitas vezes por uma convergência de ambos.


Simples: é mais fácil vender para um público genérico um “zoológico” com o nome de underground/alternativo, que é apresentado como apenas “80’s de preto”, uma versão que periodicamente tem um revival no mainstream, como vimos novamente nos últimos anos.


Assim, enquanto o estilo gótico for apresentado no Brasil como um pacote de turismo alternativo “zoo 80’s revival” vamos continuar a sofrer com objetificação da população gótica e com turistas conservadores que descaracterizam qualquer ambiente como alternativo.


Portanto precisamos desenvolver no Brasil uma cena Gótica realmente gótica e alternativa, voltada para a população gótica e com respeito a seus valores, atualizada e coerente, e não focada apenas em estilos e conceitos e repertório que tenta recriar os anos 80 fora de contexto, em um eterno revival, o que apenas atrai público não alternativo por motivos comerciais.


É um longo trabalho, logo é bom começar a dar os primeiros passos com nossas botas afiveladas e limpar as teias de aranha das nossas capas pretas, pois o caminho é longo. Mas a direção certa é mais importante que a velocidade e sucesso rápido.


Mas enquanto os “anos 80” forem considerados uma religião e verdade sagradas, não há esperança de mudança: uma parte dos estilos dos anos 80 é uma parte de nossa tradição gótica e darkwave, mas a diferença entre o remédio e o veneno é, como sempre, a dosagem e o objetivo.


ESSA QUESTÃO ENVOLVE OUTROS FATORES, OS TEXTOS ABAIXO CONTINUAM E COMPLEMENTAM ESTE: A QUEM INTERESSA A NÃO PROFISSIONALIZAÇÃO DA CENA GÓTICA? CONSUMO, ESTÉTICA E POLÍTICA NAS SUBCULTURAS







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